quarta-feira, 20 de dezembro de 2006

Fim de ano

O ritmo está ficando lento. Pouca gente retorna ligações ou se anima a entrar de cabeça num projeto. É semana de Natal, tempo de abrir sorrisos e parecer simpático. Vizinhas de prédio murmuram Boas Festas depois de passar o ano inteiro fechando a porta do elevador na cara da outra. Chefes que mal falam com os funcionários por email agora acham de bom tom abraçar o departamento inteiro e desejar paz e prosperidade para 2007. Até operadora de telemarketing consegue ficar ainda mais efusiva que o normal.

- Então, dona Marta, que o menino Jesus derrame luz e benção do céu para a senhora e toda a sua família.
- Ok, ok, peça para o motoboy trazer o recibo do meu pagamento.

Para lembrar as festas de fim-de-ano, montamos uma árvore simpática na sala e colocamos um Papai-Noel na porta de casa. As ruas estão cheias de luzinhas, os shoppings estão abarrotados de gente louca, mas nem assim entrei no clima de Natal. Deve ser o mau-humor provocado pelo calor ou o tédio causado pelos especiais natalinos na televisão.

O único fato que me anima é a união da família na casa dos meus pais na noite do dia 24. Pela manhã, seremos os padrinhos do nosso lindo Arthur, de 4 meses. E por volta da meia-noite seremos os tios babões à espera da chegada do Papai-Noel, dessa vez na pele do meu irmão Raul. A casa vai ficar de pernas para o ar, é assim que deve ser. Louça suja na pia, papéis de presente pela sala e barulho de brinquedo novo até 4 da manhã. Isso sim vai ser gostoso!

Fim de etapa


Alegrias da Mercedes Ruiz. Vai ser difícil me achar...



Junto com dezembro, chegou o fim de uma fase que começou em fevereiro de 2003. Foi naquele tempo que ouvi "Solo quiero caminar" pela primeira vez. Os passos eram tímidos e a tensão era evidente no meu rosto. Flamenco é lindo sim, mas está longe de ser fácil, ainda mais para quem ficou mais de 10 anos longe da dança.

Muita coisa aconteceu de lá para cá. No Canadá, tive a sorte de fazer aulas com a querida Carmen Romero. Na Espanha, pude aprender mais com La Tati, Manuel Reyes e Inmaculada Ortega na famosa Amor de Dios. Mas o mais importante havia acontecido dentro de mim.


O agradecimento no palco do Teatro das Artes, no Shopping Eldorado



Descobri que o sentido da dança está no prazer, não na técnica. Que vale mais sentir o compasso que passar horas em movimentos mecânicos sobre uma contagem sem música. De repente, a metodologia antiga ficou impossível de engolir. Meu corpo não respondia mais a gritos nem a olhares severos. E foi assim que enterrei para sempre a rigidez imposta por todas as professoras loucas de ballet clássico durante 12 anos.

Foram precisos 30 anos para que eu entendesse, de uma vez por todas, que não é preciso preencher requisitos alheios para dançar. Basta estar feliz e gostar do próprio corpo, com todas as características que o diferenciam de uma Ana Botafogo. Como me ensinou o Johannes nas sessões de rolfing, é nos movimentos que guardamos nossas histórias. E é com eles que quero seguir em frente. Dançar para mim, não para os outros.



Tientos na coreografia da La Tacha




O sorriso aliviado e o fim de uma etapa

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