quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Às pessoas mais queridas de nossas vidas

Ya estoy en la mitad de esta carretera
tantas encrucijadas quedan detrás.
Ya está en el aire girando mi moneda
y que sea lo que
sea.
Todos los altibajos de la marea
todos los sarampiones que ya pasé.
Yo llevo tu sonrisa como bandera
y que sea lo que
sea
Lo que tenga que ser, que sea
y lo que no por algo será
No creo en la eternidad de las peleas
ni en las recetas de la felicidad.
Cuando pasen recibo mis primaveras
y la suerte este echada a descansar
yo miraré tu foto en mi billetera
y que sea lo que
sea.
Y el que quiera creer que crea
y el que no, su razón tendrá.
Yo suelto mi canción en la ventolera
y que la escuche quien la quiera escuchar.
Ya esta en el aire girando mi moneda
y que sea lo que
sea.

(Jorge Drexler)

Obrigado, obrigado por tudo!
Um grande beijo destes dois andarilhos a todas as pessoas que amamos.
Fiquem com Deus!
Marta e Martim

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Fim de um ciclo, começo de outro

Depois de dois meses de silêncio, volto a este blog para contar que fiquei sem palavras diante do post deixado abaixo pelo Martim. Não havia mais o que escrever, não havia mais o que dizer frente às palavras mais lindas que um neto poderia escrever sobre sua avó.

Hoje, reli o texto dele e novamente me emocionei. Fiquei me perguntando o que ela diria se lesse essa homenagem delicada e sincera do neto. Na verdade, penso muitas vezes no que ela diria se visse esse montão de coisas que vem acontecendo desde sua partida. E nesta terça-feira, dia em que decido encerrar uma etapa, penso que, mesmo com uma pontinha de preocupação, ela me diria que o importante nessa vida é fazer o que se gosta.

Muitos ciclos estão se encerrando à minha volta. Pessoas queridas estão dando passos importantes aqui e fora do Brasil. Nessa fase de começos e recomeços, tem de tudo: compras de casa, mudanças de emprego, casamentos bilíngues e malas prontas para o exterior. Tem francesa, russa e suíça casando com brasileiros. Tem cheiro de tinta e caixas espalhadas pela casa.

Se eu contasse para a dona Lucília o furdunço que está por aqui, talvez ela ficasse surpresa com a velocidade das coisas. A partida dela parece ter sido a primeira de muitas mudanças que estavam por vir. Foi o estopim para sairmos da inércia e arregaçarmos as mangas e lutarmos, com força, pela vida que queremos ter.

É, dona Lucília, até na sua despedida você nos ensina!

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Minha avó se foi


Minha avó se foi. Se foi depois de 3 semanas de uma agonia que cresceu lentamente. Foi sumindo, enfraquecendo, perdendo a lucidez e a paciência. Mas foi tranqüila, nas horas finais, em paz com o Deus que lhe foi tão companheiro nos 24 anos de viuvez. Foi a ele que recorri, assim como todos da família, na hora de implorar que ela parasse de sofrer. E isso foi atendido, dentro das circunstâncias cruéis do câncer. Minha avó morreu dessa doença maldita, sem ter sentido, porém, a dor insuportável que muitos sentem anos a fio.

Preferi pensar que foi assim porque ela era a pessoa que era. Querida, muito querida. Uma pequenina filha de portugueses saída dos confins de São Paulo, tão humilde quanto a periferia onde ela foi criada por um ex-agricultor analfabeto e a madrasta, que substituiu a mãe perdida aos 4 anos. Apesar de endurecidos pela vida, ambos devem ter sido muito bons, pois entregaram ao mundo uma mulher forte, durona, mas doce, amável e generosa demais.

Minha avó tinha 86 anos. Perdeu o marido aos 62, um filho, num acidente, aos 57; enfrentou 3 cirurgias no intestino e viveu com o maior bom humor e otimismo que eu já vi em alguém. Repetia incansavelmente frases que viraram bordões da família, como “Eu não tenho assunto para conversar, porque não tenho estudo”. E, com esse jeito, nos acolhia todo fim de semana em que aparecíamos. Cantarolava musiquinhas da Velha Guarda, das quais não sabia os nomes e misturava os intérpretes. Mas ria e ficava feliz. Cuidava das inúmeras plantinhas no quintal com gosto. Me chamava para dizer “Filho, olha que coisa mais linda” quando uma folhinha diferente surgia num lugar inesperado. Assobiava para o passarinho e, quando ele morreu, passou a deixar alpiste na gaiola aberta, para que pardais e rolinhas se esbaldassem.

Ela ia da Vila Prudente até a Lapa, de trem, para nos visitar de surpresa quando éramos criança. Trazia balas, chocolate e bolachas para nos agradar e continuou fazendo isso até meus 25 anos. Às vezes, nos fazia bolinho de chuva e fritava tiras de massa de pastel. Preparava arroz (sempre papa), feijão e bifes que ela deixara temperados na véspera. Deliciosos. E cozinhava macarrão só para mim enquanto servia bacalhau – que eu não gostava – para o resto da família. Me mimava, mas de um jeito doce, assim como fazia, de modos diferentes, com cada um dos “seus”, como dizia.

Minha avó era cheia de manias. Teimosa como ela só. Mas não deixou que a própria simplicidade, o histórico de subserviência ao pai e ao marido e a tal “falta de estudo” sufocassem a alegria e o carinho que sentia, que emanava dela naturalmente. Aprendeu, já velhinha, a dizer que nos amava – numa auto-superação, mesmo não tendo sido criada para dizer essas coisas e, principalmente, por se arrepender de não tê-las dito aos filhos quando eram pequenos.

Quando eu tinha 7, 8 anos, pedi para que ela me contasse tudo o que sabia. “Assim, como um mágico ensina para um aluno, vó”. Ela obviamente disse que nada sabia, nada teria para ensinar. Mesmo assim, me contou inúmeras histórias do passado, que eu sempre adorei. Mas ela provavelmente não soube que me ensinou a maior coisa que podia, coisa que nenhum conhecimento enciclopédico ou diploma me ensinaria: nada nos torna tão grandes quanto aprender a ter gratidão, pura e simples, pela vida.

Nunca dá tempo de fazer tudo, mas fiquei satisfeito com tudo o que fiz com e por ela. Curti minha avó, de verdade.

Pra você, vó:

“O meu boi morreu,
O que será da vaca?
Pinga com limão, morena,
Cura urucubaca”

Fica em paz.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

A Tempestade

Madredeus
Letra e música de Carlos Maria Trindade

A grande nuvem escura vai-se embora
dissolve-se a loucura da tormenta
a maré recua agora plana e lenta
as gaivotas largam terra sem demora

Sobrevoam sem ruído o seu rochedo
de tanta vaga e espuma já dormente
enquanto o sol que brilha novamente
lá beija a areia toda já sem medo

Fui ver
Fui ver
a tempestade
vim a correr

Fui ver
Fui ver
a tempestade
vim-te dizer

Destroços de madeira na corrente
deixam ver o que em tempos foi uma proa
pintada de carinho e muitas côres
ao estilo desta nossa boa gente

Fica o drama dos que esperam na falésia
por quem Deus já destinou à eternidade
e é lição que contra Deus não há vontade
fica a fúria calma da grande saudade.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Tempo, tempo, mano velho...

falta um tanto ainda eu sei
Pra você correr macio...

(Sobre o Tempo - Pato Fu)

Sim, o tempo voou desde o último post neste blog. Neste intervalo, muita coisa aconteceu.

- Fiz 32 anos
- Trabalhei com o Martim no Camaleoa
- Descobri livros novos
- Redescobri livros antigos
- Conheci pessoas queridas
- Falei com velhos amigos
- E, principalmente, voltei a sonhar

Vivi coisas muito bonitas nas últimas semanas.

- Vi uma velhinha querida de 86 anos se emocionar com uma serenata
- Pelo telefone, ouvi a voz de outra velhinha amada de 90 anos
- Reativei minha vida de ciclista
- Comecei a ler dentro do ônibus sem ficar enjoada
- Fiquei encantada com as aulas de Psicogerontologia no Cogeae
- Também me encantei com os ensinamentos do Yoga na FMU
- Conheci o maravilhoso Professor Hermógenes
- Tive uma aula incrível com a Lia Diskin
- Aprendi muito com o filho do professor Gharote
- Vi de perto o Ballet Nacional de España no Teatro Alfa
- Chorei com a Eva Yerbabuena no Teatro Municipal
- Fiquei emocionada com "My Blueberry Nights"

Tem gente que teme a passagem do tempo.
Eu não. De uns tempos para cá, eu tenho comemorado! :-)

sábado, 22 de março de 2008

Clichê latino

Outro dia, conversando com um amigo querido que, assim como eu, é filho de estrangeiros, fiquei pensando em todos os clichês latinos que existem por aí e na dúzia de bobagens que sempre ouvimos.

A seguir, três frases realmente irritantes:

  • Ah, mas você tem uma coisa meio latina!
    Resposta: sim, eu, você e todo mundo que vive neste país. Ou você pensa que o Brasil fica onde?
    Realmente não entendo o que se passa na cabeça das pessoas quando elas se referem a latinos como habitantes da América hispânica. É como se um sueco dissesse a um austríaco: "ah, mas você tem uma coisa meio européia!"

  • Então, mas como é lá no seu país?
    Resposta: bom, você sabe, pois vive no mesmo país onde eu vivo.
    Basta eu dizer que sou filha de bolivianos para virar boliviana. Muitos apagam da cabeça o "filha de" e comentam, empolgados: "nossa, mas você fala português muito bem!"

  • Você já foi à Colômbia ver a sua família?
    Resposta: não, pois a minha família é da BOLÍVIA, não da Colômbia.

    Sei que o ensino no Brasil é uma porcaria e que pouca gente tem noções de geografia. Por isso, quando noto que a pessoa quer aprender, explico mais sobre a Bolívia. Mas o chato é que, muitas vezes, noto um arzinho de superioridade de muitos brasileiros em relação aos países vizinhos. Há um certo desinteresse, uma arrogância velada em comentários preconceituosos que realmente são irritantes.

    Quer um exemplo? O futebol. Já reparou que, numa derrota do Brasil frente a seleções de países vizinhos (exceto a Argentina), os comentaristas raramente falam que o time rival jogou bem? É quase sempre assim: ou a equipe brasileira estava desfalcada, ou a arbitragem nos prejudicou, ou o técnico errou na escalação ou a altitude prejudicou os pobres brasileiros. Mas dizer que a outra seleção jogou bem, jamais! Imagine só falar um absurdo desses...todo mundo sabe que futebol só existe no Brasil e na Argentina. Arrogância??? Imaaaaaaagina...

    Sabem o que é engraçado nisso tudo? É que depois, esses mesmos brasileiros visitam a Europa ou os Estados Unidos e descobrem que, na cabeça de quem vive por lá, o Brasil é apenas mais um lugar exótico que faz festa o ano inteiro e rebola até o chão. Não passa de um país colorido e quente da América Latina ou da África.

    Kevin Johansen, minha salvação

    Eu adoro a letra da música "Cliche Latino". É do Kevin Johansen, um músico talentosíssimo que nasceu no Alasca e vive na Argentina desde os 12 anos.

    Ah, para quem não sabe, a palavra pachanga que está no segundo verso é um ritmo musical dançante que tem um apelo exageradamente erótico. Algo como funk ou axé.

    Che, gringo, no entendés nada
    Pero te gusta, te gusta la pachanga
    Pinche gringo, no entiendes nada
    Pero te gusta, te gusta la pachanga

    Y mueve bien la cintura
    Porque sabe que al gringo eso le gusta...

    Ladino, Cliché Latino, ladrón de gallinas recibido
    Eh, Ladino! Cliché Latino, ladrón de gallinas recibido
    Y mueve bien la cintura
    Porque sabe que al gringo eso le gusta
    Y mueve bien la cadera
    Porque sabe que al gringo eso lo altera...

    Nosotros también queremos bailar
    Pero no al pie de tu son
    También queremos gozar
    Y no al pie de tu cañón...

    Cliché Gringo, Cliché Latino!

    Si me pongo la fruta en la cabeza
    Seguro que lloverá cerveza
    Si me pongo el sombrero de torero
    Seguro que lloverá dinero
    Si me pongo algo encima
    Seguro que algo lloverá
    Si me pongo alguito encima
    Seguro que alguien bailará

    Estereotipo, estereotipo, estereo,
    Tipo estereotipo...(x 2)

    Nosotros también queremos bailar
    Y no al pie de tu son
    También queremos gozar
    Y no al pie de tu cañón
    También queremo´encajar
    Y no en tu formato...

    Hey now, enajenao!
    Hey now, enajenao!

  • sexta-feira, 14 de março de 2008

    Jequices da classe média

    Todos os dias, quando chego ao trabalho, vejo uma fila interminável na porta de uma loja de chocolates. Motivo: o estabelecimento foi eleito pela revistinha semanal mais lida pela classe média paulistana como um dos melhores da cidade.

    Tudo bem que estamos perto da Páscoa mas, gente, pelo amor de Deus! Ficar parado na calçada às 7h da manhã ou formar uma longa fila dupla de carros só para comprar ovos de chocolate na lojinha divulgada na revista é muita jequice.

    Eta povinho besta!