terça-feira, 30 de janeiro de 2007

Saudades do flamenco


Esse é o trailer do Ibéria, do Carlos Saura. O filme nem é grande coisa, mas há imagens impecáveis. São tão lindas que dá vontade de chorar (principalmente com a Sara Baras, minha deusa).
E pensar que eu estava na estréia mundial desse longa durante o Festival de Toronto! Vá ter sorte assim lá na...

segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

O fazedor de joinhas

O Brasil realmente sofre da síndrome do provisório. Pelo menos é isso que me vem à cabeça todas as vezes que pego a linha Vila Gomes - Jardim Miriam para ir à Paulista. O veículo sobe a Rebouças, todo pimpão, pelo modernoso corredor de ônibus que corta a cidade entre a Zona Oeste e a região central. Humilha as intermináveis filas paralelas de carros e reluz seu letreiro pirotécnico. Mas quando é hora de sair da faixa exclusiva e entrar na avenida mais famosa de São Paulo, é preciso contar com a técnica avançadíssima do joinha.

Trata-se da prática do cobrador de botar o bração para fora e conquistar a simpatia dos motoristas que estão à direita. Ele distribui acenos, sorrisinhos, gritinhos até conseguir espaço entre os carros. Batuca na lataria e solta um "vai, vai, vai." Para arrematar, ele faz um joinha para os colegas de trânsito.

Essa arrojada técnica é repetida, pelo menos, oito vezes por dia pelo mesmo cobrador. Por semanas. Meses. Anos. Em vários turnos. Por outros cobradores. Em incontáveis veículos. Em outras vias de São Paulo.

Conta-se com o jeitinho e a camaradagem para tudo neste país. Para remediar a falta de planejamento público. Para amenizar a incompetência dos nossos administradores. É fácil, é só fazer um joinha e aceitar que as coisas são assim mesmo. "Fazer o quê, né, minha fia?"

domingo, 28 de janeiro de 2007

Dia feliz

Nosso amigo Clézio nos deu o prazer de um forte abraço depois de 1 ano fora de Toronto. De férias no Brasil, ele pegou um ônibus do Rio na última sexta-feira apenas para jogar conversa fora com os dois MMs deste blog.

Apresentamos-lhe a pizza paulistana, a melhor deste planeta, e alguns passeios pela cidade. Aqui é o Jardim da Luz, em frente à famosa estação de mesmo nome e do lindo Museu da Língua Portuguesa.

Cidadão canadense há 15 anos, o jornalista Clézio Campos veio matar as saudades da família e dos amigos em passagem pelo sudeste brasileiro. Primeiro o Rio de Janeiro, onde tornou-se habitué dos bares da Lapa, e agora a controversa capital paulista. Nesta foto, ele saboreava um café de verdade no Pátio do Colégio.



E aqui ele ataca de fotógrafo, depois de encarar o tradicional pastel de bacalhau no Mercado Municipal. O tour do fim-de-semana passou ainda pela Vila Madalena, Higienópolis, avenida Paulista, Pinacoteca, Vale do Anhangabaú e algumas ruas do centro.

São Paulo não é grande coisa para turismo, é verdade, mas o nosso reencontro com o Clézio tornou-a mais bonita.

sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

Estamos na moda

Entrei na capa do UOL e vi uma chamada para a matéria do link abaixo:

http://vidasimples.abril.uol.com.br/edicoes/050/01.shtml

Descobri que nosso modo de vida virou pauta. O nosso e de milhares de brasileiros que estão fora do "estilo-Vila-Olímpia" de ser. Por estilo ou falta de opção.

Confesso que abri um sorrisinho de satisfação. Como é boa a sensação de estar fora dessa engrenagem que derrete cérebros!

quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

Pedacinhos de cotidiano

Alguns fatos desta semana

  • Inconsequência

    Estive nesta semana na Santa Casa e não pude deixar de reparar no vai-e-vem de acompanhantes de pacientes com câncer. O movimento era intenso na recepção que separava a sala de espera do belo jardim de entrada. Lá fora, eles formavam rodinhas para fumar. É isso mesmo, testemunhas dos efeitos devastadores dessa doença tragavam, prazeirosamente, a fétida fumaça de nicotina na porta da unidade de oncologia. Vá entender...

  • Cartilha do SPFW

    Ainda falando em saúde, a edição deste ano do São Paulo Fashion Week resolveu mostrar preocupação com o assunto. Foi lançada uma cartilha com dicas de alimentação para modelos esquálidas. Tudo para evitar casos de anorexia, esse "estranho fenômeno" que as agências desconheciam (!!!) até a morte de uma garota de 1,70 de altura e 40 quilos. Uma prova de que tudo é possível com uma boa dose de marketing. Daqui a pouco o mundo fashion receberá a condecoração de guardião da saúde e bem-estar. Comovente!


  • Travas das portas de bancos

    Gostaria de entender o estranho mundo das portas giratórias de bancos. Ontem entrei em uma agência carregando os seguintes itens:

    - 1 telefone celular
    - 1 MP3 player
    - 2 molhos de chaves
    - 1 pesado porta-moedas

    Empurrei vagarosamente a porta de vidro, à espera do ruído da trava. E nada! Em menos de cinco segundos, eu estava no interior do prédio, ainda um pouco reticente. Sentei em uma das cadeiras perto da gerência e fiquei observando o movimento. Uma loira carregando um guarda-chuvas foi o alvo seguinte do rebuscado sistema de segurança. E mais uma vez, nada!

    Lá na calçada, vi uma senhora mulata se aproximando. Corpo franzino, cabeça baixa e uma sacola de papel em uma das mãos. Mal ela entrou naquela jeringonça, o mecanismo travou. Começou o interrogatório.

    - A senhora tem chaves, moedas, celular, guarda-chuvas?

    Do outro lado do vidro, olhos assustados e palavras sem som. No compartimento de produtos "suspeitos", apenas chaves e moedas.

    - Fique atrás da faixa amarela e entre, ordenou o segurança.

    A engrenagem novamente parou. Dessa vez, o olhar era de humilhação.

    - O que mais a senhora tem na bolsa?

    - Eu tenho uma marmita de plástico.

    - Tem papel alumínio na marmita? Papel alumínio trava a porta, senhora!

    Enquanto ela revirava a bolsa, algumas lágrimas insistiam em escapar dos olhos dela. Não sei como havia sido o dia daquela mulher, mas aquilo era mesmo a gota d'água.

    Ainda estou tentando entender a lógica daquela parafernália. Tentando entender o funcionamento desse país. Como é que a gente se acostumou a viver assim?

  • quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

    Para rir um pouco

    Dois dos nossos favoritos:



    domingo, 21 de janeiro de 2007

    Passada! (parte 2)

    Comentário de um colega num fórum de jornalistas:

    "Ontem 16/01, por volta das 14 h, a RedeTv mostrou ao vivo e a cores o quase linchamento do Serra e do Kassab na rua Capri, local do acidente do Metrô. Eram parentes das vítimas junto com o povo presente no local, revoltados com a demora para a retirada dos corpos da van. Um número imenso de jornalistas presentes, que até foram agredidos pelo povo, junto com alguns PMs, formaram um cordão de isolamento para Serra e Kassab, que estavam pálidos de medo. Eles não esperavam por essa atitude do povo. Demorou bem uns 20 minutos a revolta do povo contra o Serra e o Kassab, até eles conseguirem chegar a seus carros e fugir. A Folha, o Estadão e a Globo não deram uma notinha sequer sobre o ocorrido. Entrei no site da JP, que estava lá, e nada, nem uma palavra. Imagine se esse quase linchamento fosse com o presidente Lula: seria capa de Veja, estaria nas primeiras páginas de todos os jornalões, a Globo entraria com plantões..."

    É o que eu digo, meus caros. Não há como calar o silêncio.

    segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

    Passada!

    Não se fala em outra coisa por aqui. Está em todos os canais, em todos os jornais, em todas as rodinhas. O terrível acidente nas obras da futura estação Pinheiros de metrô comove, entristece e deixa São Paulo ainda mais tensa do que o normal, especialmente nas proximidades da cratera. Balconistas, ambulantes, pedestres e clientes do comércio popular do bairro se espremem em frente às TVs que transmitem imagens ao vivo dos trabalhos de resgate. Todo mundo tem uma história para contar, um conhecido que ouviu falar, um conselho para dar. E nesse vai-e-vem de gente, no embalo das viaturas e no ruído incessante de helicópteros, acompanho as notícias pelo rádio. E me surpreendo.

    Sabem qual foi o tema da coluna de hoje do Arnaldo Jabor? Os parabéns à prefeitura do PSDB. É isso mesmo, afagos ao partido que comanda o Estado de São Paulo há 12 anos no mesmo dia das buscas que mobilizam a opinião nacional. Ele usou seu precioso tempo na rádio CBN para elogiar o Kassab, sucessor de Serra. Disse que finalmente alguém lançou uma medida para acabar com a poluição visual que assola a capital paulistana. Para quem não sabe, 2007 começou com a retirada de anúncios e letreiros estratosféricos que sujam as vias públicas, uma medida, sem dúvida, importante para recuperar a cidade. Mas hoje seria realmente o melhor dia para dar tapinha nas costas dos tucanos?

    Não, não estou aqui para acusar a gestão Alckmin, afinal de contas a busca por responsáveis pela tragédia só está começando. O que realmente está me incomodando é a maneira como o assunto está sendo colocado na mídia. O tom é apelativo, um dramalhão barato a serviço da comoção coletiva. Primeiro os jornais reproduziram feito papagaios a versão do governo de que que foi a chuva a causadora do acidente. Agora é o tipo de solo a bola da vez. E assim vamos assistindo a uma busca leviana pelo melhor gancho, um que renda audiência e corrida às bancas.

    Enquanto acompanho isso tudo, uma pergunta não me sai da cabeça. Será que a cobertura seria a mesma se a governadora fosse a Marta Suplicy? Não, não sou petista, mas há coisas que precisam ser ditas. Vocês se lembram da enchente do túnel da Rebouças em 2004? Quem tem boa memória sabe que a imprensa não demorou nada para culpar a ex-prefeita. Assim que as águas tomaram a via expressa, não faltaram reportagens falando da pressa para inaugurar a obra e dos sinais de problemas sérios na construção. Agora, num acidente de proporções muito maiores, ouço, sem parar, que a obra estava sendo tocada por um consórcio de empresas privadas e vejo imagens de um Serra arrasado e um Kassab buscando soluções. E o Alckmin? Ninguém viu. Se fosse a inauguração da linha, os três estariam lá, colhendo os louros. Mas na hora da tragédia, a responsabilidade é da meteorologia, da geologia, da iniciativa privada, da mãe Joana.

    É por isso que, se aparecer um dossiê responsabilizando um assessor do PT pela tragédia, eu juro que não vou me surpreender. Talvez seria um ataque do Palácio do Planalto contra o prédio da Abril, quartel-general da assessoria de imprensa do PSDB, digo, a redação da revista Veja. Ou uma campanha para difamar a "bem-sucedida" administração tucana.

    E pensar que tem gente que ainda teme a censura aos veículos de comunicação. Não há o que temer, meus caros. Não há como calar o silêncio.

    quinta-feira, 11 de janeiro de 2007

    Você tem razão, meu irmão

    Faltou incluir um item importante no post abaixo. Disse meu irmão Gerson (sempre ele):

    - Um dos responsáveis pela crise dos 30 você não colocou, que é o cara que criou essa expressão. Porque crise a gente tem o tempo todo...

    É verdade, Gé. Temos crises em várias fases da vida e todas nos fazem crescer (e sofrer). Se elas são bem-vindas? Si, pero no mucho. São necessárias, mas poderiam ser bem menos dolorosas se não fôssemos atropelados pela lista interminável de exigências desse mundo doido. Ou melhor, se não deixássemos que elas nos atropelassem.

    Este é apenas um desabafo. De alguém que resolveu jogar a toalha. Não quero ser mais uma paranóica tentando se encaixar nos padrões vigentes. Cansei.

    O metrô de São Paulo

    Mudando totalmente de assunto, queria falar de um aspecto positivo e outro negativo do nosso metrô. Vou começar pelo ruim para possibilitar um desfecho otimista.

  • As cerquinhas das plataformas da estação Sé

    Não me conformo com aquelas barras de ferro que organizam a entrada dos usuários nos trens. Até entendo que o objetivo daquilo é evitar um caos maior do que já acontece todos os dias mas, para mim, aquilo é um claro atestado de incompetência. O pensamento me parece mais ou menos assim: "já que não podemos aumentar o número de trens e linhas, nem melhorar o transporte, então vamos pôr essas cerquinhas para que as pessoas não se matem no horário do rush."

    É o provisório que vira permanente, uma marca registrada da maioria das administrações públicas desse país. Dia desses recebi um panfleto da CET com orientações "valiosíssimas" sobre como proceder em dias de enchente. Puxa vida, ainda bem que o Estado se preocupa com o bem estar dos cidadãos, até mandou imprimir uns papéis para que a gente não morra afogado...

  • A agilidade dos usuários

    Caminhando pela estação, quase fui atropelada por adolescentes que tentavam chegar a tempo ao trem. Eu disse "quase". Se fosse em Toronto, a gente teria se trombado porque lá as pessoas andam em linha reta. Aqui não. Aqui eu me esquivo para lá, elas jogam o peso do corpo para cá e todas nós saímos ilesas.

    É o manjada e verdadeiro jogo de cintura de alguns povos, o mesmo que permite cerquinhas para a boiada no metrô e panfletos "educativos" para dias de dilúvio. A nossa flexibilidade é vista como algo positivo, claro, e dessa vez não quero bater no óbvio lado negativo. Naquele momento, apenas fui otimista. Pensei: ainda bem que não foi em Toronto!

  • domingo, 7 de janeiro de 2007

    Crise dos 30

    Alguém conhece uma pessoa que tenha passado imune à crise dos 30?
    Em caso afirmativo, por favor, me apresente essa fortaleza. Certamente vai virar meu ídolo.

    Para astrólogos, o responsável pela bagunça interna é o famoso retorno de Saturno, que começa entre 27 e 28 anos. Mas para mim, há mais culpados:

  • as revistas femininas, que expõem numa mesma edição uma sobremesa divina de 8 mil calorias e um par de gravetos dentro de um microshorts estiloso;

  • a tia Maroca, cujo passatempo é perguntar, desde que você estava no primário, quando você vai se casar;

  • a tia Coroca, que adora repetir por aí que "fulana não teve filhos, coitada!";

  • as panelinhas de brinquedo, que te obrigam a imaginar a vida numa cozinha como vassala de um bando de folgados;

  • os palpiteiros da gestão de carreira, que torturam profissionais aflitos com novos modismos e insistem em te fazer enxergar o copo meio vazio;

  • as publicações sobre celebridades, especialistas em jogar na cara alheia toda a fortuna e beleza daquela gente de plástico;

  • os filmes de Hollywood, criadores da ilusão de que basta um videoclipe para o protagonista superar seus limites e triunfar no final;

  • as novelas da Globo, que resolvem a angústia da espera com o maldito "Seis Meses Depois";

  • as festas de reencontro da escola ou faculdade, onde todo mundo finge acordar todos os dias às gargalhadas;

  • as marcas de cerveja, que te vendem o prazer de um chopp gelado num anúncio com uma loira de barriga tanquinho;

  • a sensatez, que finalmente te faz ver que até um mico amestrado pode fazer aquele trabalhinho idiota;

  • e principalmente VOCÊ, que deixa essas porcarias todas entupirem sua mente. Para correr, infeliz, sem sair do lugar.

  • quinta-feira, 4 de janeiro de 2007

    São Pedro pirou

    - São Paulo com termômetros marcando 20 graus em janeiro
    - Temperatura em Montreal variando entre 3 e 7 graus
    - Ausência de neve em Toronto, onde o frio não passa de 6 graus

    Para ser franca, estou adorando essa loucura climática. Para mim, o mundo ideal teria temperatura mínima de 15 e máxima de 25. Pena que essa mudança não seja obra do acaso. E isso me preocupa.

    Desacelerou

    Além do tempinho ameno, São Paulo tem oferecido outros prazeres:
    - menos gente louca pelas ruas
    - trânsito relativamente calmo
    - suspensão do rodízio de carros
    - ausência de mães ensandecidas nas portas das escolas
    - frutas de verão
    - otimismo sazonal
    - bons filmes em cartaz (nossos últimos foram o canadense C.R.A.Z.Y. e o brasileiro O ano em que meus pais saíram de férias)

    Por falar em cinema

    Vejam o lindo O Abraço Partido, do argentino Daniel Burman. É, sem dúvida, um dos melhores já produzidos pelos nossos vizinhos. Na história, o protagonista Ariel trabalha com a mãe numa galeria comercial decadente de Buenos Aires e tenta tirar a cidadania polonesa para morar na Europa. Ao longo do filme, ele tenta descobrir por que seu pai os abandonou e foi para Israel. Comovente e divertido!

    Outro bom presente das locadoras é Um Passaporte Húngaro, da brasileira Sandra Kogut. Nesse documentário, é mostrada a epopéia enfrentada pela própria diretora para conseguir a nacionalidade húngara. Como diz a sinopse do filme, são levantadas "questões sobre o que é uma nacionalidade, para que serve um passaporte, sobre o que somos porque queremos ser e o que somos porque herdamos."

    Enfim, dois filmes sobre a vida na fronteira...