domingo, 16 de setembro de 2007

A síndrome do final de domingo

As paredes de casa vão se apagando aos poucos. Aperto o botão do interruptor, enquanto penso na quantidade de coisas que quero fazer nas últimas horas de domingo. Cortar as unhas, molhar as plantas, ligar para algumas pessoas, pesquisar aquele negócio na internet, tomar banho, preparar minha mochila para amanhã, dar uma olhada naquele texto e, quem sabe, assistir aquele documentário que vai passar na TV.

Executo as tarefas como se corresse numa pista com obstáculos. "Cortei as unhas, legal! Agora é hora de molhar as plantas." E lá vou eu, andando pela casa com um check-list absurdo na cabeça. Penso na Maria Bethânia, que, certa vez, disse não gostar da melancolia de um final de tarde. Eu também detesto, principalmente aos domingos.

Cansada, me deito na cama e lamento a fugacidade das 48 horas de um final de semana. Penso em tudo que não deu tempo de fazer, no filme que gostaria de ter visto, nos amigos que queria ter visitado, nas horas que adoraria viver ao lado dos meus sobrinhos. Suspiro. E torço para a semana passar rápido.

Durante a semana, tudo de novo. Começo a programar dezenas de coisas para sábado e domingo. Ir ao supermercado, lavar roupa, cozinhar, me depilar, levar umas roupas na costureira, passar no aniversário de fulano, almoçar na casa de sicrano, fazer aquele frila, pesquisar cursos e, quem sabe, tentar relaxar.

Preciso dizer como vou me sentir nas últimas horas que antecedem a segunda-feira?

Felizmente, a síndrome do final de domingo está ficando cada vez mais amena comigo. Porque, em vez de girar nesse carrossel inútil de lamentos, fui tentar entender, o que diabos, está acontecendo comigo. Por que fico exausta e, ainda assim, me sinto distante das coisas que gostaria de estar fazendo?

O caminho para entender tudo isto é longo, mas alguns cursos, conversas e livros estão sendo fundamentais para criar o modelo de vida que quero para mim. Um dos responsáveis por essa mudança foi um primero e leve contato com as idéias do filósofo francês Gilles Lipovetsky em "A Era do Vazio: ensaios sobre o individualismo contemporâneo". Outro livro interessante é "Devagar", do escocês Carl Honoré. Didático e repleto de exemplos do dia-a-dia, o texto aborda essa correria sem sentido que nos leva à exaustão. Reproduzo um trecho, da página 64.

"Em nossa cultura super excitada e obcecada por rapidez, levar uma vida completamente turbinada ainda é o troféu mais cobiçado. Quando as pessoas se queixam, 'Puxa vida, estou tão ocupado, minhas pernas nem dão mais conta, minha vida é uma droga, não tenho tempo para nada', muitas vezes, o que estão querendo dizer, na realidade, é 'Olhe só para mim: veja só como sou incrivelmente importante, atraente e cheio de vida.'

Pois é, faz tempo que me cansei disso. Inércia, definitivamente, não é para mim.

2 Comentários:

às 17/09/2007, 16:50, Blogger Drica <* *> disse...

Livros anotados... Adorei a ideia!
bejitosss da Drica <* *>

 
às 24/09/2007, 09:22, Blogger Frontera disse...

Drica, comece por "Devagar", que vale a pena!
Beijos

 

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